Þēaw

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þēaw é o coração e a mente do Fyrnsidu. Ser heathen no sentido tribal é agir e pensar de acordo com a tribo; agir e pensar de acordo com a tribo é seguir o que foi estabelecido pelo þēaw. Ele é a totalidade do que os heathens pensam, fazem e são.

A palavra þēaw vem do proto-indo-europeu *teu-, significando "prestar atenção a (algo)", "voltar-se para (algo)". Seu significado no idioma dos anglo-saxões é "costume, maneira de se fazer, prática geral de uma comunidade". Assim, þēaw é aquilo que importa para a tribo, é a maneira de agir, aquilo para o qual seus membros estão inclinados, aquilo que a tribo observa ou segue.

Mas no plural, þēawas possuía também uma implicação ética, significando virtudes. Os þēawas  são os parâmetros de comportamento que os antigos heathens anglo-saxões tinham como admiráveis  e em certo sentido sagrados, pois se observados e alcançados garantiam boa reputação às pessoas. Algumas delas são, por exemplo, a honra tribal, a equidade ou justiça, o espírito comunitário, a preservação da friþa coragem, a reciprocidade, a hospitalidade, a moderação ou bom-senso e a lealdade (isso não pretende resumir todos os þēawas dos antigos heathens, apenas destacar alguns dos que eram mais característicos em sua visão de mudo e que podemos entender de maneira menos difícil).

þēaw de uma tribo estava profundamente ligado à sua ǣ, que é traduzida por "lei, estatuto, costume, rito, casamento". Os antigos entendiam que haviam dois tipos de lei: a lei popular ou costumes habituais, e a lei superior, na qual seu descumprimento era tão inaceitável que culminava em punição, podendo ser até mesmo a morte ou banimento social: ser colocado fora da lei (būtan ǣ). Esse esquema legal influencia até hoje o direito inglês.

Um fora-da-lei, alguém que está ao mesmo tempo fora da proteção da lei e entendido como alguém que não respeita o þēaw tribal é a pior espécie de inimigo por ser reconhecido como uma ameaça ao innanġeard tribal; ele é o ponto desestabilizador e destruidor da friþ, um vargr em nórdico antigo, um butan ǣ em inglês antigo, um lobo pronto para atacar e ferir a comunidade humana. Não existe nenhum romanceamento nisso ou paralelo com o satanismo, como alguns querem fazer parecer. O vargr representa o ego descontrolado e aquilo que era mais prejudicial ao grupo, numa época em que o grupo era a única forma de sobreviver seguramente.

Outro aspecto importante do þēaw pode ser percebido com um quase sinônimo: ġewuna "costume, hábito, prática, rito", vindo do proto-indo-europeu *wné, ou aquilo a que as pessoas estão acostumadas. Assim no  þēaw enquanto ġewuna entra também o aspecto religioso, aquilo que escapa ao que é religioso-cívico do significado de ǣ. Aquilo que nós próprios chamamos hoje de "religião" ou Heathenry ou Fyrnsidu era simplesmente costume ou hábito, para esses povos.

Por fim, temos a última face de þēaw enquanto sidu, ou "costume, hábitos, maneira, rito, moralidade, boa conduta", o que está ligado aos þēawas, mas no sentido da conduta mínima do que pode ser considerado "bom" (good) no sentido daquilo que é benéfico e de acordo com o desenvolvimento e þēaw da tribo, não "bom" no sentido pós-conversão de "bem" absoluto. O sidu enquanto þēaw é aquilo que define o heathen enquanto tal e não como membro de qualquer outra cultura.

A grande importância de þēaw é que enquanto lei ou ǣ ela está fixada nas camadas, no Poço da wyrd. Podemos ver na palavra læġ ou lei, presente no composto Orlæġ ou "lei primordial", que significa "algo que foi estabelecido (laid)", ou, literalmente "algo que foi deitado nas camadas da wyrd". O þēaw é aquilo que foi estabelecido na origem como maneira, conduta, hábito correto perante a natureza e comunidade humana.

Assim, virtudes, costumes, hábitos, boa conduta, lei, e o próprio innanġeard equivaliam ao þēaw. þēaw é a essência do Fyrnsidu, e sem aquilo ele não pode ser exatamente aquilo que é: o paganismo dos povos anglo-saxões tribais.

Bibliografia

SEAXDĒOR, Daniel Falcão. Heathenry tribal: Reconstruindo a visão de mundo e os antigos costumes do norte, 2017.
WŌDENING, Eric. We are our deeds: The elder Heathenry, its Ethics and thew, 1998.

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